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Pressa que não leva a nada – Rapidez prejudica potencial de novo “Anjos da Noite”

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               Em 2003, “Anjos da Noite”, longa de baixo orçamento, ganhou o público no mercado de home vídeo. Tratava-se de uma obra obscura e interessante que ganhou o devido reconhecimento depois de uma passagem despercebida nos cinemas. De lá para aqui, foram lançados quatro filmes sendo o quarto deles algo decepcionante. É com clima de desconfiança que o público recebe “Anjos da Noite: Guerras de Sangue” (Underworld: Blood Wars, EUA, 2016) que traz de volta a bela Kate Beckinsale na pele da vampira Selene.

            Nos primeiros minutos de projeção, o longa já nos entrega ação, com Selene sendo perseguida por um grupo de lobisomens. A guerra entre os vampiros e lobos está mais sangrenta do que nunca e a filha de Selene e Michael – este desaparecido desde o segundo filme, é a chave para a vitória de quem adquirir o seu sangue primeiro, uma vez que ela é a primeira híbrida pura. Com esse objetivo em mente, dentuços e lobos perseguem Selene em busca de saber onde a filha dela está escondida. Enquanto isso, os vampiros estão sendo dizimados, uma vez que os lobisomens possuem um novo mentor: Marius (Tobias Menzies) que organiza sua espécie e esconde um segredo. Com medo da extinção, a vampira Alexia (Daisy Head) sugere ao conselho vampiresco que perdoem Selene por seus atos de outrora e coloquem-na para ensinar os jovens vampiros a serem caçadores de lobos já que, como não é segredo para ninguém, Selene é a melhor deles.

Os protagonistas Kate Beckinsale e Theo James, boa dupla!

Tendo pela primeira vez uma mulher na direção, a novata na função, Anna Foerster começou bem o seu trabalho, embora sua falta de tato fique em evidência. Tecnicamente o melhor de todos, com uma fotografia obscura como de costume, mas muito bem trabalhada cada sombra fazendo até com que o 3D não fosse prejudicado – aliás, ao contrário de “Animais Fantásticos e Onde Habitam” a paleta de cores sombria sempre fez sentido nos longas de “Anjos da Noite”, os efeitos especiais são os melhores e a trilha sonora está levemente mais instigante.

           No entanto, não adianta nada Kate Beckinsale se esforçar para dar profundidade a sua personagem e a parte técnica no longa ter melhorado se a edição mastigou toda a película para nos entregar algo extremamente rápido. Com apenas uma hora e vinte minutos de projeção, tudo acontece rápido demais. O roteiro de Cory Goodman e Kyle Ward não tem tempo de se aprofundar em temas relevantes ao longa e consequentemente, aos seus personagens. Em beira da extinção, podia-se contextualizar os personagens ao medo de serem eliminados, ao ato de se preservarem como espécie. De Selene, como tutora, podia se ver inserida socialmente de novo e interagir com seus alunos e, acima de tudo, da tristeza que a saudade de sua filha a causa. Mas, nada disso. O roteiro não o faz e quando tenta, a edição não deixa. Primeiro, em nenhum momento os vampiros transmitem algum temor de aniquilação; segundo, a passagem de Selene como tutora foi tão rápida que perdeu o sentido de está ali e terceiro, a edição não dá espaço a momentos intimistas.

O conselho dos vampiros, onde Daisy Head irá se destacar.

Por ser dirigido por uma mulher, até achei que o filme iria trabalhar bem sobre essa questão de maternidade, mas a falta de experiência de Foerster falou mais alto. O plot do longa realmente é interessante e o roteiro tinha chances de entregar um filme realmente diferente que pudesse, de uma vez por todas, dar à franquia um novo fôlego perdido no filme anterior.

O elenco está para mostrar que podem sim sustentar os filmes. Beckinsale despensa comentários, linda, poderosa e sexy, a atriz parece ter nascido para dar vida à Selene. Theo James que volta na pele do vampiro David, tem carisma, mas falta pulso firme de direção para extrair mais dele. Tobias Menzies consegue passar bem a ideia de lobo insistente e, sem tempo para desenvolver o personagem melhor, a cara de durão fez o trabalho. Gostei muito da inserção de Daisy Head e Bradley James (II). A primeira nos entrega uma personagem com desejo de luxúria e poder e, embora suas intenções pareçam forçadas, ela trás ao longa possibilidades interessantes. Já o segundo funciona muito bem ao lado de Head e pode se transformar em um personagem interessante – basta termos um roteiro mais decente.

Com potencial para se transformar no melhor filme da franquia, “Anjos da Noite: Guerras de Sangue” peca pela rapidez desnecessária em que tudo acontece, não dando ênfase a assuntos realmente interessantes. Ainda assim, consegue apagar o gosto amargo deixado pelo longa anterior e oferece o que promete: boas sequências de ação e lutas instigantes, afinal, é sempre bom ver Selene colocando lobo e vampiro para correr. Outra coisa que se percebe com esse filme é que os estúdios estão entregando demais os seus longas nos trailers, não restando uma surpresa sequer na película.

P.S. o 3D não é ruim, mas não fará falta.

Nota: 7.0/10.0