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Terror de alto padrão – James Wan mostra seu potencial no excelente “Invocação do Mal 2”

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O terror/ suspense é um gênero muito complicado de se trabalhar – e de assistir. Isso porque a grande falta de originalidade permeia quase todas as produções do gênero que caem nos sustos fáceis, uso da trilha para gerar um medo momentâneo e atitudes ridículas de alguns personagens.

Alguns filmes desse gênero conseguiram ir mais além como “O Sexto Sentido”, “O Exorcista” e “A Chave Mestra”. O “Invocação do Mal” em 2013 passou a encabeçar essa lista.

Depois de um ótimo primeiro filme, não havia dúvidas que muitos temiam que “Invocação do Mal 2” (The Conjuring 2, EUA, 2016) iria borrar toda essa imagem positiva do primeiro longa, algo que quase sempre acontece nas continuações – muitas vezes desnecessárias, do gênero. Porém, basta aparecer o letreiro anunciando o nome do filme para percebermos que ninguém ali está somente a fazer uma simples continuação.

 

A família Hodgson assustada com os estranhos eventos na casa.
A família Hodgson assustada com os estranhos eventos na casa.

O enredo se passa sete anos apôs os acontecimentos do primeiro filme e mostra Lorraine e Ed Warren (Vera Farmiga e Patrick Wilson) estudando a veracidade de um caso. Após alguns acontecimentos, o casal decide se afastar desse tipo de trabalho e realizar apenas palestras sobre o tema da paranormalidade. Porém, logo eles são chamados pela Igreja Católica para investigar um suposto caso de assombração na Inglaterra que está atormentando uma família. A Sra. Peggy Hodgson (Frances O’Connor) e seus quatro filhos, entre eles, a doce Janet (Madison Wolfe) que é quem mais sofre com os danos da figura sobrenatural. Enquanto os Warren tentam entender o que está acontecendo na casa, vai ficando claro de que tudo pode não ser real.

O filme possui uma atmosfera única. Abraçando uma paleta de cores seca, recheada de tons frios, a fotografia do veterano Don Burgess é um espetáculo à parte. Ao mesmo tempo em que brinca com o espectador deixando-o atento a qualquer movimento ou objeto suspeito, enquadra cenas de uma maneira maravilhosa, sempre prezando por uma qualidade narrativa instigante.

Tudo isso, observado com cuidado pelo diretor James Wan que mostra, nesse filme, seu potencial como artista e contador de histórias assustadoras. Wan supera seu ótimo trabalho no primeiro Invocação. Usando sempre a câmara como um elemento narrativo, consegue realizar planos-sequências maravilhosos. Seja para mostrar toda a casa, seja para atenuar o clima de tensão – ou ambos.

Acoplado a uma edição sensível que sempre busca cortes sutis, dando mais atenção a sequências sem cortes, com um jogo de câmera que sempre atenua a tensão do longa.

A trilha sonora, elemento essencial nesse tipo de filme, por incrível que pareça, não é tão usada nesse filme como em outros exemplares do gênero e tão pouco da forma previsível como se é comum. Quando surge, a trilha nunca erra, dando ainda mais importância a algumas cenas. James Wan mostrou ter uma sensibilidade artística incrível. Ele entendeu que para conseguir gerar tensão, é necessário apresentar o cenário ao público, fazê-lo conhecer profundamente os personagens para se importar com eles e, acima de tudo, que o responsável pela atenção da plateia é o clima, montando delicadamente durante todo o filme para se chegar em um clímax impecável e não sustos momentâneos que dão e passam sem ficar na plateia a sensação de perigo iminente.

Destaque também para a ótima direção de arte. Ambientado na década de setenta, o longa traz de maneira eficiente todo um cenário realista dessa época, seja nos figurinos como nos elementos em cena. O trabalho de arte na construção da casa assombrada também merece destaque. Pequenos detalhes foram pensados de maneira a contribuir com a trama, como o local em que uma estranha poltrona descansa que, visualmente, já consegue passar medo.

Vera Farmiga e Patrick Wilson na pele do casal Warren. Atuações fabulosas.
Vera Farmiga e Patrick Wilson na pele do casal Warren. Atuações fabulosas.

Todo esse trabalho incrível de Wan não seria possível sem um elenco com as mesmas qualidades. No primeiro Invocação, o casting também foi um diferencial. Mas aqui, não tem comparação. A química entre Vera Farmiga e Patrick Wilson, que dão vida ao casal Warren, responsáveis por solucionar muitos casos assustares, está melhor que nunca. A primeira dá um verdadeiro show de interpretação, trazendo a sua personagem a sua já conhecida força, mas também, sua fragilidade como pessoa. O segundo surpreende com pequenos gestos que dão ao ser personagem maior convicção.

A cena em que canta Elvis Presley é sensacional e tocante. Impossível não se emocionar. Frances O’Connor consegue transmitir bem o desgaste físico e emocional de uma mãe, cujo marido a abandonou e luta para dar tudo aos seus filhos. No entanto, é impossível não destacar a meiga Madison Wolfe que na pele da pequena Janet, mostra um potencial sem precedentes. A atriz mirim consegue demonstrar todo o medo de sua personagem apenas com o olhar e ainda vai além. Mostrando ter um total domínio sobre o corpo, cada gesto se mostra extremamente eficaz para a construção da trama em que Janet é submetida. Muito ansioso para vê-la em outros filmes!

Com todos os elementos técnicos trabalhados de maneira estupenda, sustos extremamente bem trabalhados, tensão assustadora e um elenco fabuloso, “Invocação do Mal 2” mostra-se melhor que o primeiro ao mostrar nuances poucas vezes exploradas no gênero. Temos sim todo um suspense, como é de se imaginar, mas também temos drama, romance e comédia – isso mesmo, comédia. A maneira como os Warres foram trabalhados foi outro diferencial. James Wan aqui mostra a que veio e agora teremos que estar atentos a seus futuros trabalhos. Que venha o terceiro filme!

Nota: 10.0