Como tudo na vida, há um padrão ideológico de como as pessoas devem se portar, a paternidade não escapou desse pensamento. Há gerações as pessoas que resolvem se tornar pais, sofrem com os julgamentos de como devem educar seus filhos.
Bom, eu sou mãe. Não pareço, mas sou. Tenho 30 anos e meu moleque tem 1 ano e meio. Meu primeiro herdeiro. Luz da minha vida. Quando descobri a gravidez, fui tomada por um desespero que só desapareceu completamente depois de 3 meses após o nascimento. É aquela básica sensação de fracasso sem nem ter tentado alguma coisa. Aquele medo de fazer tudo errado. Colocar a fralda ao contrário. Não saber identificar os choros do bebê. Não acertar na hora de fazê-lo dormir.
Esse desejo de fazer tudo perfeito é normal e vai diluindo ao passar do tempo; a preocupação volta-se a educação do pequeno. Como ensiná-lo a ser feliz por ser quem é, mas impondo alguns limites.
Encontro-me nessa fase. O Samuel, meu filho, está descobrindo o mundo; anda pela casa inteira, corre, cai, chora, quer tocar e pegar em absolutamente tudo, joga tudo no chão, faz aquele chilique quando é contrariado.
Um dos seus alvos preferidos é o computador. Ah, e o celular. Objetos esses que eram inexistentes na minha infância. Para o Samuel, que nos vê sempre digitando e clicando, é uma referência. Sempre que consegue alcançar, ele brinca de mexer e clicar com o mouse. Tenta imitar os movimentos do meu marido jogando Dota. Para mim, nada fora do comum. Eu sou nerd, meu marido é nerd, a influência desse mundo para meu filho é quase inevitável.
Mas muita gente acha isso ruim. Ainda mais com novas notícias errôneas de como os jogos eletrônicos incentivam a violência.
Já ouvi muito “vai deixar seu filho jogar videogame? Aí um dia ele vai tentar matar você e seu marido”. Claro, como se a novela das 9 fosse um conto de fadas. Como se a maioria dos programas em TV aberta mostrasse o paraíso na Terra. Acredito piamente no diálogo; eu joguei videogame a vida inteira e nem por isso acho legal espancar alguém no meio da rua com um cano ou viajei na maionese com qualquer tartaruga que encontrasse na rua. Ensino princípios ao meu pequeno. Ensino respeito próprio e respeito ao próximo. Ensino carinho. Ensino alegria. Porque são as coisas que importam.
Estatisticamente falando, o Brasil é um dos maiores consumidores de jogos eletrônicos (inclui-se os online) do mundo. Há dez anos, eu falei para meu pai que as multinacionais voltadas ao mundo digital olhariam para cá com interesse – deveria ter jogado na loteria também. Aumentou o número de vendas, de pacotes de internet, de mais e mais jogos, assim como cresceu, por outro lado, a vigilância do bom senso e da fiscalização etária. Tornou-se um mercado sólido e competitivo, como outro qualquer. Só que, por você poder se tornar um ninja com muitos poderes em frente a uma TV, é um potencial paranóico social. Gente, menos.
O problema não é o jogo. O problema é o exemplo que a criança tem em casa.
Como meu filho resolve se divertir será uma particularidade dele. Se ele quiser jogar videogame, ótimo. Se quiser rabiscar cadernos, ótimo também. Em ambas as atividades ele usará a criatividade, que é a mais importante para uma infância sadia e feliz.Terá limites, como tudo, mas jamais o proibirei de desfrutar da sua própria essência, seja ela como for.
Então, queridos papai e mamãe de primeira viagem que compraram bodies de bebês com o símbolo do Batman, não se aflijam. Tudo depende do que vocês passarem para seu filhote. Passe o bem, receberá o bem.
Essa sim é uma lei que deveria ser seguida à risca.
Mas cá entre nós: do jeito que a carruagem vai, não duvido nada de ter (mais) um atleta de jogos eletrônicos em casa. Viva a classe nerd! 😉