Nancy (Blake Lively) ainda está muito abalada pela perda da mãe e decide conhecer uma praia onde esta última sempre falara. Chegando finalmente no paradisíaco mar, a garota percebe que todos escondem dos turistas o nome da praia, evidentemente, para manter o local livre das mira do turismo. Aventureira e surfista, o local acaba se mostrando perfeito para que Nancy possa fazer o que tanto ama e sentir um pouco mais a proximidade com sua mãe. O ambiente é maravilhoso, o sol está forte, a água é limpa e cristalina e as ondas as melhores que Nancy poderia desejar. No entanto, quando ela decide ficar na água sozinha mesmo quando a noite já está chegando, todo o mundo outrora maravilhoso se transforma em um pesadelo sem igual. Um tubarão surge e morde uma das coxas da garota que, sem ter como ir à areia devida a grande distância na qual se encontra, busca abrigo em cima de um rochedo no meio da água. Ferida, seu sangue se transforma no verdadeiro radar para a criatura maligna que a rodeia e aguarda o momento certo de atacar. Não há como fugir a não ser a nado, não aparece ninguém para se pedir ajuda e a maré está prestes a encher e, quando isso acontecer, o rochedo no qual Nancy se mantém será submergido.
É só falar de um filme com tubarão que automaticamente já nos lembramos do clássico de 1975 do grande Steven Spielberg. Porém, o caminho que “Águas Rasas” (The Shallows, EUA, 2016) segue é diferente, embora cause a mesma tensão. Depois de tantos filmes desprezíveis trazendo como protagonista essa temível criatura marinha, o diretor espanhol Jaume Collet-Serra nos entrega uma grande surpresa. Collet-Serra tem grande experiência em dirigir filmes de ação como “Sem Escalas” com Liam Neeson – que, aliás, achei ótimo; mas aqui, ele foi muito além do que já fizera até então.
Tudo no filme é resumido. Basicamente, só temos uma personagem, o mar, o tubarão (que o diretor revelou ser uma fêmea) e uma ave. Apenas com esses quatro elementos, Jaume Collet-Serra nos entrega um longa de uma hora e vinte minutos onde passamos a maior parte da projeção com as mãos fincadas na cadeira, tamanho o suspense. Para tal, Collet-Serra usa inteligentemente uma trilha sonora medida minuciosamente, cortes rápidos, planos abertos para dar ênfase à solidão de Nancy perante a sua situação, closes na hora certa e planos detalhes que fazem toda a diferença na película. Outro ponto interessante é o fato do tubarão aparecer pouco. Sabemos que ele está, todavia, não exatamente onde está, então, qualquer ação tomada pela protagonista causa à plateia uma reação de medo imediata.
Com um predador tão feroz em tela, precisava-se uma protagonista à altura e Blake Lively surpreendeu. No início o clima do filme é de descontração, acompanhado por tomadas sensuais de Lively se preparando para entrar no mar, surfistas pegando onda ao som de uma trilha elétrica e uma fotografia digna de um cartão-postal. Mas quando o tubarão aparece, acaba com todo esse clima alegre. A cor do filme ganha uma paleta delicadamente mais obscura e Blake Lively mostra sua capacidade de demostrar dor, medo e determinação. Um grande trunfo do roteiro escrito por Anthony Jaswinski é dar uma profundidade necessária a sua protagonista e fazer com que o público se importe com ela consequentemente. Interessante também é a inserção de uma ave para interagir com Nancy. Com uma das asas feridas, o pássaro também se encontra na mesma situação da humana e compartilha o rochedo com ela. Tentar levar a presença da ave para o simbolismo é uma deliciosa tarefa pós-sessão.
Trazendo poucos elementos em tela, trilha sonora contida e na medida certa, “Águas Rasas” mostra que com criatividade (a forma como foram inseridos os diálogos via smartphone no filme, foi sensacional!) se pode fazer um grande filme e Jaume Collet-Serra chegou a um nível mais alto em sua carreira cinematográfica. Pena o longa ter errado justamente na sua conclusão e deixar uma ligeira sensação de “what?”. Mesmo assim, o saldo positivo prevalece, prepare-se para se surpreender, prender a respiração e presenciar um grande duelo cheio de suspense e desespero.
Nota: 8.5\ 10.0
Edição: Eduardo Janibelli