Início CineReview O preço da pressa – Edição desastrosa quase arruinou “Warcraft”

O preço da pressa – Edição desastrosa quase arruinou “Warcraft”

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Desde que vi o trailer de “Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos” (Warcraft, EUA, 2016) longa baseado em um dos mais famosos jogos do mundo, minhas primeiras reações foram mistas. Acreditava que o longa poderia ter potencial, ao mesmo tempo, temendo que os efeitos especiais falassem mais altos que o roteiro. Nos cinemas finalmente, ao fim da projeção da película o resultado era o que eu realmente tinha imaginado.

No início do longa somos apresentados aos Orc´s, criaturas com inteligência humana e corpo que lembra um trago, que buscam novo local para morar e construírem seus povoados, uma vez que o mundo deles fora dizimado. Com a ajuda de um monstro-feiticeiro Gul´Dan (Daniel Wu) as criaturas acabam indo parar na pacífica região de Azeroth através de um portal. Logo, os Orc´s se tornam inimigos dos Humanos e das outras raças que vivem no local, dando início a uma guerra. Quando porém, um Orc forte chamado Durotan (Toby Kebbel) começa a entender que o causador da desgraça dos Orc´s é o próprio Gul´Dan, pode-se chegar a um acordo impensável, até então, entre humanos e orc´s.

Quem assume a direção dessa fantasia é o quase novato no cinema Duncan Jones que havia me surpreendido com o ótimo “Contra o Tempo”. No citado filme, ele mostrou ter um posicionamento interessante relacionado à ação, colocando-a sempre com nuances dramáticas. Em “Warcraft” todavia, isso não acontece. A ação razoavelmente dirigida por Jones não assume esse lado dramático importante, sendo mais uma pancadaria crua. Acredito que o diretor fez um trabalho de forma apaixonada, porém, dando ênfase a poucas coisas realmente interessantes.

Poderíamos pensar, a princípio, tratar-se de um problema de roteirização. Escrito pelo próprio diretor e por Charles Leavitt – cujo trabalho em “Diamante de Sangue” foi estupendo, o roteiro não se preocupa em se aprofundar em nenhum personagem. Um aqui e outro ali é que ganha um pouco mais de destaque, sempre mantendo a superficialidade. Os primeiros vinte minutos de projeção são absolutamente um quebra-cabeça para desconhecedores dos jogos – tipo eu. O roteiro, então, desenvolve-se, melhor dizer, avança, e somos apresentados a inúmeros personagens interessantes. A começar pelo próprio Durotan, um líder decidido a fazer o que é melhor ao seu povo não importando o que lhe possa acontecer para conseguir tal fim. Temos os feiticeiros humanos Medivh (Ben Foster) e Khadgar (Ben Schnetzer), o primeiro sendo uma surpresa para mim e o segundo tendo ótimos momentos em tela, levando-nos a boas risadas bem colocadas. O protagonista Anduin Lothar (Travis Fimmel) o soldado humano mais temível, é interessante funcionalmente, nada mais. Aparece Dominic Cooper que vive o Rei Llane Wrynn que está totalmente desfocado no longa, não conseguindo convencer como governante. O filme, porém, não é dos orc´s e tão pouco dos humanos e, sim, da mestiça Garona (Paula Patton). Além de ser a personagem mais interessante da trama, tendo os principais pesos do enredo nas mãos, foi vivida perfeitamente por Patton, que já havia ganhado minha simpatia nos dois últimos exemplares da série “Missão Impossível”: “Protocolo Fantasma” e “Nação Secreta”.

Paula Patton na pele da mestiça Garona, a dona do filme.
Paula Patton na pele da mestiça Garona, a dona do filme.

Os efeitos especiais, como tinham quer ser, não desapontaram. Gostei muito do trabalho visual CGI de todos os orc´s, cada um deles foi bem trabalhado a ponto de mostrarem muita veracidade em seus gestos e vestimentas. Isso se deve, também, ao trabalho maravilhoso da direção de arte, presenteando-nos com ambientes bem trabalhos, figurinos condizentes ao clima do longa e ainda ajudando a dar vida aquele universo. Volto aqui a falar dos feiticeiros, cuja magia se manifesta de maneira bem fiel ao jogo, o que me lembrou de algumas nuances do anime e mangáCard Captor Sakura”, e ficaram bem originais na tela do cinema.

Dessa forma, com uma direção aceitável, personagens interessantes, atores dedicados, direção de arte extremamente eficaz, fotografia mediana e ótimos efeitos visuais, resta a pergunta: o que, realmente, é o maior problema do filme? Por fim, eu respondo: o ritmo. A edição do longa é a pior que vi recentemente. Tudo acontece rápido demais, os cortes nas cenas de ação são mal feitos e o ritmo do longa é horrível, deixando a projeção cansativa. Até mesmo a trilha sonora composta por Ramin Djawadi foi mal colocada, estando presente em toda a projeção sem cessar em nenhum momento. O roteiro não é bom, tampouco desastroso, chega até ser mediano algumas vezes e um dos principais pontos negativos é ser excessivamente clichê. Sem contar a escolha do diretor de colocar closes óbvios para desfechos se tornarem ainda mais óbvios. Talvez, muitas cenas tenham sido jogadas fora para encurtar o longa, deixando-o com duas horas de projeção e desta forma, a falta de aprofundamento dos personagens pode nem ser de fato uma falha de roteiro. Esse é o tipo de filme que deve ter duas horas e meia para, em primeiro lugar, apresentar os personagens de maneira adequada, o contexto onde estão inseridos, para depois, explorá-los. O que vemos em tela é um personagem sendo jogado na cara da plateia sem nenhuma preocupação em criar algum vínculo com esta. Isso prejudica tanto o longa a ponto de nenhuma morte chegar a comover – e eu lhes digo, foram muitas mortes! Uma, inclusive, teve uma interpretação pobre de Travis Fimmel, cujo diretor deveria ter exigido mais. Porém, como eu já falei, a dramaticidade do longa foi reduzida àqueles 1%.

Efeitos visuais e muito CGI, todos bem feitos.
Efeitos visuais e muito CGI, todos bem feitos.

As dezenas de furos no roteiro, como o fato de haver várias raças em harmonia em Azeroth – onde mostra até mesmo uma assembleia formada por elas, mas apenas os humanos participam da guerra; ou de um soldado ficar cansado após subir uma grande escadaria e um serviçal não (oi?), incomodam demais, pois, mostra uma falta de preparação dos roteiristas em deixar aquele mundo coeso. Temos muito visual e pouco roteiro. É bom ver mais uma personagem feminina roubar a cena mais uma vez, como a Mulher-Maravilha em “Batman VS Superman”.

Sem nenhuma dúvida, esse não foi o começo ideal para “Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos”, porém, o que salvou o filme das pressas de uma edição catastrófica, foi o elenco dedicado, principalmente Paula Patton e Ben Schnetzer, e personagens muito interessantes que ainda fazem o espectador ficar sentado para acompanhar sua jornada. Se não fossem esses elementos, já poderíamos enterrar a série. Mas, ainda há esperança.

Nota: 6.0

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