Em 2011 estreava nos cinemas “X-Men: Primeira Classe” trazendo o grupo dos mutantes que já conhecíamos porém, mais jovens. Com a proposta de mostrar o início do relacionamento entre os mutantes da trilogia que se iniciou em 2000 e terminou em 2006, o longa surpreendeu com a qualidade de roteiro, atuação e quesitos técnicos. Dirigido pelo ótimo Matthew Vaughn, a película havia dado novo fôlego aos mutantes que quase viram sua vida cinematográfica chegar ao fim depois do catastrófico “X-Men Origens: Wolverine”. Para “X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido” o pai dos mutantes no cinema, Bryan Singer, voltou à direção e nos ofereceu um dos melhores longas daquele ano. Não a toa as expectativas em cima de “X-Men: Apocalipse” (X-men: Apocalypse, EUA, 2016) que estreou nesse último dia 19, eram as mais altas possíveis. Uma pena elas não terem sido supridas.
Ha milhares de anos, o primeiro mutante do mundo, En Sabar Nur ou simplesmente Apocalipse (Oscar Isaac), foi traído por seu próprio povo e após uma série de acontecimentos foi aprisionado a centenas de metros a baixo do chão. Quando, porém, ele desperta nos dias atuais – quero dizer na década de oitenta, e encontra seus iguais sendo recriminados pelos humanos que ele julga serem inferiores, decide reconstruir o mundo dando a ele o comando dos mutantes, ou de seus ‘filhos’ como ele os chama. Logo, os X-Men se veem envolvidos com Apocalipse quando este recruta Erik Lensherr/ Magneto (Michael Fassbender) para ser um dos seus Quatro Cavaleiros.
O longa, como era de se imaginar, começa no Egito em uma sequência belíssima e tensa, para depois mostrar um jovem mutante descobrindo seu poder. E assim, “X-Men: Apocalipse” dava a certeza que seria um filme extraordinário. Porém, quando se chega à metade deste, o roteiro começa a ficar superficial e os personagens param de ganhar a evolução necessária. Por exemplo, somos apresentados aos novos e jovens Scott Summers/ Ciclope (Lucas Till), Jean Gray (Sophie Turner), Noturno (Kodi Smit-McPhee), entre outros, mas a interação deles enquanto alunos/ adolescentes não é explorada – a sequência que iria se passar no Shopping foi, simplesmente, cortada. Dessa forma, o foco cai em cima (mais uma vez) de Raven/ Mística (Jennifer Lawrence), Professor Xavier (James McAvoy), Magneto e, claro, Apocalipse.
A Mística de Jennifer Lawrence teve uma sutil evolução, ficando claro o caminho que ela irá seguir. O grande problema dela nesse filme é que a Lawrence fez sua personagem na maior parte do tempo no piloto automático. Engraçado notar que seus melhores momentos são quando ela está de azul! Por debaixo de várias camadas de maquiagem, Oscar Isaac consegue dar uma grande presença para o Apocalipse, inclusive, com a voz sendo bem trabalhada pela equipe de som, fazendo as exclamações do vilão serem arrepiantes. Porém, o ótimo trabalho do ator ficou ofuscado pela evolução extremamente pobre do vilão. Visto como uma divindade no Egito, teria sido interessante trabalhar esse lado mítico do Apocalipse. Até mesmo a relação dele com os humanos/ mutantes e, principalmente, sua relação com os seus Quatro Cavaleiros. O vilão virou apenas mais um vilão querendo purificar o planeta da forma que ele julga ideal para governar. E falando nos Quatro Cavaleiros, tirando Magneto, os demais tiveram poucas falas, mas tiveram uma participação interessante. Em vários momentos eles não falaram mas o diretor teve o feeling de mostrar suas expressões, o que deixava claro o que estavam sentido naquele momento. Tempestade, o Arcajo e a Psylocke tiveram ótimos momentos em tela.
Foi muito interessante ver os mutantes usando os seus poderes nas batalhas. O diretor conseguiu colocar um tempo de tela para quase todos os mutantes da trama e conseguiu fazê-lo de forma agradável. Não da melhor maneira possível como em “Dias de Um Futuro Esquecido” ou mesmo do recente “Capitão América: Guerra Civil”, mas se analisarmos o contexto de que ali a maioria dos personagens são novatos, até faz sentido uma equipe não tão sincronizada.
Porém, mais uma vez, o filme é de James McAvoy e Michael Fassbender. O primeiro traz uma atuação emotiva, cômica e forte. O segundo nos emociona com sua interpretação excelente e uma presença de tela inegável – mesmo já está sendo cansativo ver o Magneto ser sempre trabalhado nos filmes.
A direção de Bryan Singer neste longa foi de altos e baixos. Embora ele tenha tido ótimas ideias, parece ter ficado insensível a questões que ele havia tocado tão bem em filmes anteriores. É evidente que o foco dele foi a ação e, realmente, ela não decepciona. Atrelada a uma fotografia enxuta, consegue nos presentear com ótimos momentos.
Curiosa, porém, é a trilha sonora de John Ottman que parece ter seguido todo o cronograma do filme. Ou seja, a trilha começa de maneira magistral, sendo forte e impactante, no entanto, se perde à medida que o longa avança. O compositor em, muitos momentos, preferiu usar a trilha com acordes que remetem a aventura o que não ficou muito condizente com as espetaculares cenas de pura ação com direito a uma batalha psíquica plausível. Alguns exageros, porém, devem incomodar aos mais atentos, como a cena demasiadamente prolongada de Mercúrio (Evan Peters) – embora belíssima, e o uso de efeitos visuais todo instante de forma perceptível. Inclusive, a cena do Mercúrio se passa em um momento inadequado, o que a deixou ainda mais fora do tempo.
A maquiagem, assim como de todos os outros filmes dos X-Men, continua excelente. O destaque também vai para a direção de arte que ambientou muito bem os anos oitenta sem a necessidade de ficar reforçando que está em tal década. Inclusive, foram usadas muitas referências à época, desde acessórios a Michael Jackson.
O grande dilema do filme é a família. O homem, a esposa e sua filha. O filho em busca do pai. Um “pai” querendo ajudar os seus “filhos”. Uma equipe de mutantes de transformando em família. Se o vilão Apocalipse também fosse abordado trazendo uma apologia à relação familiar, o longa teria chegado ao patamar que todos esperávamos. “X-Men: Apocalipse” passa muito, mas muito mesmo, longe de ser ruim. Porém, após o excelente “Dias de Um Futuro Esquecido” e um dos vilões mais poderosos do Universo Marvel, fica um gostinho de desapontamento ao fim da projeção. Porém, grandes surpresas também conseguem empolgar e fazer você querer assistir ao filme mais uma vez. Inclusive, o final é instigante! Para encerrar, termino com a frase dita pela jovem Jean Gray: “o terceiro filme é sempre o pior”. Mas, nesse caso, o pior ainda permanece em grande nível. Não consigo entender o motivo de tantas críticas negativas de companheiros críticos (principalmente os estadunidense). Nota: 8.5.
P.S. Tem uma cena pós-crédito!